Notáveis Filósofas Gregas

Filósofas da Antiguidade Clássica

Olá a todas alunas e todos os alunos! Hoje é Dia Internacional da Mulher 2023.

 

O conteúdo desta publicação é para todas as turmas. A quem interessar saber sobre mulheres notáveis por suas contribuições às Ciências, estou aqui disponibilizando, porque elas foram pessoas incríveis e merecem reconhecimento.


Vamos saber melhor quem são elas!


Themistocleia de Delfos (Θεμιστόκλεια Δελφίς) foi a primeira mulher do mundo a ser chamada de "filósofa". Era também conhecida como Aristocleia (Ἀριστόκλεια). Ela era matemática, profetisa e um dos mais importantes oráculos da antiguidade grega. Diógenes Laércio, baseado em Aristóxenes, afirma em sua obra “A vida e as Opiniões de Eminentes Filósofos” (cerca de 200 D.C.) que ela ensinou a Pitágoras suas doutrinas morais e éticas, sendo considerada a mestre de Pitágoras.

A escola pitagórica parece ter sido a que mais abrigou e foi influenciada por mulheres na antiguidade, e alguns de seus aforismos sobreviveram até hoje, tais como "Com organização e tempo, acha-se o segredo de fazer tudo e bem feito.", ou ainda:

  • Eduquem as crianças, para que não seja necessário punir os adultos.
  • O universo é uma harmonia de contrários.
  • Purifica o teu coração antes de permitir que o amor entre nele, pois até o mel mais doce azeda num recipiente sujo.
  • Pensem o que quiserem de você, mas faz aquilo que te parece justo.
  • Se o que tens a dizer não é mais belo que o silêncio, então cala-te.
  • Não pede nada nas tuas preces, porque tu não sabes o que é útil e só Deus conhece as tuas reais necessidades.
  • Escreve na areia as faltas de teu amigo.
  • Não faças do teu corpo a tumba de tua alma.

 

Existe uma coleção de livros infantis chamado Filosofinhas. Um dos livros desta coleção é sobre Temistocleia. Vejam a capa e a contracapa:




 

 

 

 

 

 


Temistocleia, a primeira filósofa do Ocidente, ilustra o volume inicial da série

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Aparentemente os pequenos livretinhos da Coleção Filosofinhas é bilíngüe com francês

 

Ruínas do Templo de Apolo em Delfos, onde Themistocleia teria sido sacerdotisa


Melissa (de "Melli" = mel) foi uma filósofa e matemática que escreveu cartas com pensamentos neopitagóricos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Theanã ou Theano (Θεανώ) de Crotona  foi uma filósofa, matemática e física grega, aluna de Pitágoras. Historiadores afirmam que o trabalho mais importante por ela deixado relaciona-se ao princípio filosófico da "doutrina do meio-termo". Como pitagórica, acreditava que o número era o princípio da realidade e da individualidade.

Theanã com Pitágoras3
Theanã com Pitágoras

Theano , Arignote e Myia (séc. VI a.C.)


Aspásia (Ἀσπασία) de Mileto foi uma filósofa sofista. Os relatos da época ressaltam sua habilidade como argumentadora e educadora, especialmente com a retórica, bem como sua influência política sobre Péricles, com quem teve um filho. Alguns estudiosos acreditam que ela teria sido a responsável pela Revolta de Samos. Aspásia fazia reuniões literárias em sua casa, teria feito uma escola para jovens mulheres de boa família, e participava do debate político da época.
 
Péricles, o grande líder democrático de Atenas e a maior personalidade política do século V A.C., teve como sua segunda esposa uma mulher chamada Aspásia. Poucos registros sobre ela sobreviveram até os nossos dias, mas ela é citada na Suda (uma enciclopédia bizantina do século X) como alguém de “habilidades e inteligência em relação às palavras”, que ensinava retórica e era uma filósofa da escola sofista. Alguns estudiosos acreditam que ela tenha também fundado uma escola para jovens mulheres e inventado o “método socrático”. O próprio Sócrates (segundo seu discípulo Platão, já que suas obras originais se perderam), afirmava que foi ela quem o orientou em sua formação intelectual e filosófica. Seus contemporâneos registraram que ela promovia reuniões literárias em sua casa e participava ativamente dos debates políticos em Atenas, podendo ter tido uma influência sensível na chamada “era de ouro” ateniense. Seus inimigos a acusavam de ser a “cortesã” de Péricles, já que pelas leis atenienses da época eram proibidos casais em segunda união, e tê-lo influenciado negativamente em diversos assuntos políticos.


Diotima (Διοτίμα) de Mantineia foi uma filósofa e sacerdotisa grega apresentada por Platão como uma sábia e a qual tinha uma teoria sobre o amor. Sócrates dizia que na juventude foi iniciado na filosofia do amor por Diotima, que lhe ensinou a genealogia do amor, assim ela teria dado origem ao conceito socrático-platônico do amor.





Asioteia de Flios ou Fliunte (393 – 270 a.C.) foi uma discípula de Platão e Espeusipo. Ela nasceu em Fliunte, uma antiga cidade na Arcádia, que estava sob o poder de Esparta, quando Platão fundou a Academia. Lá, as mulheres recebiam a mesma educação que a dos homens e em grande parte possuíam direitos iguais. ensinava física na Academia de Platão. Segundo Temistio, Asiosteia leu "A República" de Platão e viajou para Atenas para estudar na Academia e ser discípula do filósofo. Mas a Academia de Platão não aceitava mulheres, então ela foi disfarçada de homem; mesmo quando sua identidade foi revelada, ela permaneceu na Academia e trouxe outra mulher, Lasteneia de Mantineia. Depois da morte de Platão continuou os estudos com Espeusipo, sobrinho de Platão.

Um fragmento de papiro dos Papiros de Oxirrinco menciona uma mulher não identificada que estudou com Platão, Espeusipo, e então Menedemus de Eritréia. O fragmento explica ainda que "na adolescência ela era adorável e cheia de graça." Uma provável referência a Axiothea (ou Asioteia, se você preferir traduzir desta forma).


Hipárquia (Ἱππαρχία) de Maroneia foi elogiada por Diógenes Laércio por sua cultura e raciocínio, comparando-a com Platão. Famosa por ter vivido uma vida de pobreza como os filósofos cínicos, em igualdade de condições com o marido Crates de Tebas, nas ruas de Atenas. Seguindo a filosofia cínica, sua influência reside no exemplo de escolher um modo de vida que foi geralmente considerado inaceitável para as respeitáveis mulheres da época.




Leontiona (Leontion) era uma filósofa, pupila de Epicuro (fundador do epicurismo, uma escola do período helenístico) que viveu por volta de 300 A.C. Suas obras também foram perdidas, mas preservou-se uma carta do mestre a pupila onde ela era elogiada pelos argumentos que usava nos seus trabalhos. Ela também é citada pelos filósofos Plínio e Cícero, sendo que este último a chamava de “mera cortesã” por criticar os trabalhos de Teofrasto. Outra filósofa da escola epicurista foi Batis (Bates) de Lâmpsaco, aluna de Epicuro, que conhecemos apenas por uma carta enviada a ela por seu mestre lamentando a morte do seu filho em 277 A.C. e por alguns fragmentos de suas obras descobertos recentemente nos Papiros de Herculano (em 2015 técnicas modernas de análise por raios X permitiram ler o conteúdo de uma biblioteca carbonizada da antiga cidade de Herculano). Ainda de Lâmpsaco e também filósofa epicurista temos Temista, cuja existência apenas conhecemos pelas críticas de Cícero a obra de Epicuro, que escreveu “... (Epicuro) escreveu incontáveis volumes louvando Temista, em vez de falar sobre homens mais valorosos como Miltiades ou Epaminondas.” Fica claro que Temista e Leontina ainda incomodavam, séculos depois, o romano Marcus Tullius Cicero, que acreditava que o lugar das mulheres era fora das salas acadêmicas. Se lembrarmos as palavras do historiador Michael Grant, no século XX, de que “...a influência de Cicero sobre a história da literatura e das ideias europeias em muito excede a de qualquer outro escritor...” podemos começar a compreender um dos motivos de tantas obras escritas por mulheres não terem sobrevivido até o século XXI.

Os aedos ou poetas cantantes eram os transmissores oficiais dos mitos gregos


Hipácia (Υπατία) de Alexandria, filósofa neoplatonista, astrônoma e matemática, manteve o pensamento helênico ateniense numa Alexandria tomada por lutas religiosas, sendo brutalmente assassinada por cristãos fanáticos. Plotino a teria incentivado a estudar Lógica e Matemática no lugar de empirismo e a estudar Direito em vez de Ciências da Natureza. Ela estudou matemática, astronomia, filosofia, religião, poesia, artes, oratória e retórica. Desenvolveu estudos sobre a Álgebra de Diofanto ("Sobre o Cânon Astronômico de Diofanto"), tendo escrito um tratado sobre o assunto, além de comentários sobre os matemáticos clássicos, incluindo Ptolomeu. Em parceria com o pai, escreveu um tratado sobre Euclides. Ficou famosa por ser uma grande solucionadora de problemas. Matemáticos confusos, com algum problema em especial, escreviam-lhe pedindo uma solução. E ela raramente os desapontava. Focada no processo de demonstração lógica, quando lhe perguntavam porque jamais se casara, Hipácia respondia que já era casada com a verdade.
 
Um evento que é visto por alguns historiadores como aquele que marca o fim da era das filósofas clássicas e o início do seu esquecimento foi o assassinato de Hipátia (Hypacia) no dia 8 de março de 415. Coincidência ou não, a data atualmente reservada para o Dia Internacional da Mulher. Hipátia era uma filósofa grega, matemática, astrônoma e diretora da escola de filosofia neoplatônica da cidade de Alexandria (Egito). Também lecionava lógica e álgebra, e comprovadamente aperfeiçoou alguns instrumentos usados para o estudo de física, entre os quais o hidrômetro. Ficou famosa por ser uma grande solucionadora de problemas. Não era incomum que outros matemáticos lhe escrevessem pedindo ajuda sobre os seus problemas, e ela raramente os desapontava. Escreveu ou colaborou em várias obras e foi reconhecida como uma referência no meio acadêmico da época e, em especial, no complexo da Biblioteca de Alexandria. Quando perguntada o porquê de não se casar, respondia: “Já sou casada com a verdade”.

Para entendermos corretamente o evento histórico que foi seu assassinato, devemos lembrar que o Império Romano se torna oficialmente cristão no ano de 380. Nas décadas seguintes, uma série de conflitos acontecem entre os cristãos e os seguidores das antigas religiões, agora perseguidos pelo estado e pela igreja. Nessas primeiras décadas foram destruídas estátuas e ídolos, ordenadas a derrubado ou fechamento da maioria dos templos pagãos dentro do império e proibidas, eventualmente sob pena de morte, muitas práticas religiosas, incluindo a proibição dos Jogos Olímpicos a partir de 393. Particularmente em Alexandria, o Patriarca Teófilo ordena a destruição do Templo de Serápis em 391, criando um clima pesado na cidade, que se agrava quando o novo Patriarca Cirilo assume em 412. Cirilo era visto como “o pilar da fé”, “pai e doutor da Igreja” pela linha dura e conservadora da cidade, mas também como “monstro, nascido e criado para a destruição da Igreja” por outros cristãos (principalmente nestorianos), devido a forma violenta que combatia o paganismo. Em 415 o prefeito da cidade de Alexandria, Orestes, ordena a execução de um monge chamado Amônio, acusado da morte de alguns pagãos. Isso enfureceu o Patriarca Cirilo...

Hipátia não era cristã, era uma figura pública eminente, era uma mulher exercendo “atividades anti-naturais” para seu gênero e mantinha uma grande amizade com o prefeito da cidade, sendo então, segundo alguns historiadores, o alvo escolhido para a vingança do Patriarca de Alexandria. Na tarde do dia 8 de março de 415, quando voltava do Museu de Alexandria após uma aula, Hipátia foi atacada por um grupo de cristãos, espancada, arrastada pelas ruas até uma igreja e torturada até a morte. Depois de morta, seu corpo foi queimado para que não fosse possível ser sepultada. O simbolismo desse ato violento marca o fim de uma era para as mulheres. Em 476, a porção ocidental do Império Romano cai nas mãos dos bárbaros e se iniciava a Idade Média, que duraria até 1.453, com a queda da sua porção oriental nas mãos dos exércitos mulçumanos.

Hipácia é considerada uma das mentes mais brilhantes da história da humanidade


Algumas outras Grandes Mulheres do Pensamento Humano que viveram no Período Clássico e Helenístico:

  • Uma das mais curiosas filósofas gregas foi Sosípatra. Ela viveu por volta de 360 A.C. e sua narrativa mistura-se com a mitologia grega. Conta-se que foi criada por dois anciões caldeus (astrólogos ou videntes), que ensinaram a ela as artes da clarividência. Quando atingiu a idade para se casar, um dueto foi arranjado entre ela e seu pretendente, o filósofo sofista Eustácio, e ela o venceu com grande facilidade. Previu que teria 3 filhos e que o marido morreria em cinco anos, o que de fato aconteceu. Quando ficou viúva, assumiu o lugar do marido na Academia de Filosofia e conta-se que ela foi uma professora notável, seguindo a escola neoplatônica.
  • Maria, a judia, ou Miriam (séc. I d. C.). Viveu em Alexandria, seguidora do culto de Isis é considerada como a fundadora da alquimia. Entre os escritos está o livro de Magia Prática. Atribui-se a ela a descoberta do ácido clorídrico e é em homenagem às suas descobertas com o ponto de ebulição da água o nome de banho-maria.
  • Fíntis (Phintys) de Esparta foi uma filósofa da escola pitagórica, tendo vivido no século IV ou III A.C., mas pouco se sabe sobre ela, além de alguns fragmentos de seus escritos que sobreviveram por citação de outros autores. Esparta também foi o lar da filósofa pitagórica Tímica (Timycha), conhecida por ter sido a única sobrevivente dessa escola filosófica na cidade quando ela e seus colegas em Esparta se recusaram a aceitar o tirano Dionísio I de Siracusa como rei. Ela foi poupada pelos soldados de Siracusa por estar grávida, mas acabou presa por ter cuspido no pé de Dionísio I, num gesto de desafio.
  • A mãe de Platão foi Perictione (Peryktione), uma filósofa da escola pitagórica e aristocrata ateniense amiga de Péricles. Quase nada se sabe, além disso, sobre ela, mas acredita-se que tenha exercido influência na moral e na ética do seu filho, que mais tarde fundaria a primeira instituição de educação superior do ocidente e se tornaria um dos alicerces da filosofia ocidental. Outra filósofa pitagórica foi Aesara de Lucania, que viveu provavelmente entre os séculos IV e III A.C., e é uma das poucas mulheres que teve alguns fragmentos de suas obras preservados. Ela estudava a natureza humana como base para o direito e a moral. Sobre sua vida pessoal, não existem outros registros.

Atualizado em 13/03/2023

Fontes:


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